História Recente da Praxe na Faculdade de Medicina de Lisboa

Contrariamente ao que se possa imaginar, a Praxe Académica na Faculdade de Medicina de Lisboa assumia há alguns anos uma forma substancialmente diferente daquela que conhecemos nos dias de hoje. Há pouco mais de uma década, apresentava um caráter pontual, desprovido de conhecimento pela “Praxis” e pela Tradição Académica que lhe está inerente. Nessa altura, a Praxe Académica  na nossa Faculdade era reduzida à receção aos caloiros no início do ano letivo, quando alunos de anos curriculares mais avançados se vestiam de bata branca e desenvolviam um conjunto de atividades enquadradas na forma de “gozo ao caloiro”. Nessa mesma altura, eram poucos os estudantes que envergavam o Traje Académico, não existindo nenhum Código de Praxe ou outro tipo de atividades praxísticas.
Na última década, registaram-se profundas alterações a esta realidade: algumas práticas pontuais adquiriram um caráter contínuo e foram adotados protocolos com um cariz mais tradicional, existindo, desta forma, uma mudança de paradigma. Todo este processo de mudança foi ocorrendo gradualmente nos últimos anos, até chegarmos aos dias de hoje.
O início da rutura do paradigma descrito aconteceu em 2004. Nesse ano, alguns estudantes recém-chegados encontraram uma realidade diferente da que esperavam face ao contato prévio que tinham tido com outras instituições do Ensino Superior e face às vivências que tinham idealizado para o seu percurso universitário. Inconformados com aquilo que lhes era apresentado, construíram pontos de comunicação entre si, partilhando costumes e debatendo ideias. No ano que se seguiu, procuraram dar corpo a algumas delas, promovendo o uso do Traje Académico e organizando atividades ao abrigo da Praxe Académica. Desse modo, deu-se o primeiro passo no caminho da mudança. Apesar das resistências com que se foram deparando, surgiram alterações significativas no que diz respeito ao uso mais regular e protocolar do Traje Académico, à conduta dos intervenientes mais ativos, ao conhecimento que detinham sobre a Tradição Académica e à implementação de uma linha de continuidade nas atividades e eventos desenvolvidos. Das alterações em questão destacam-se a formação oficial da Comissão de Praxe em maio de 2009, o primeiro Código da Praxe em 2009/2010, a primeira Serenata ao Caloiro em 2011/2012, e a primeira Serenata Monumental em 2012/2013, mudanças essas que acabaram por servir de alicerces à realidade que se vive nos dias de hoje.
A par do crescimento e consolidação das práticas no seio da FML, surgiu o contato com outras instituições de Ensino Superior da cidade de Lisboa. O primeiro contato expressivo foi a tentativa de formação de uma Academia com várias faculdades pertencentes à Universidade de Lisboa, em 2011. Contudo, diferentes ideologias e práticas condicionaram este projeto, não tendo o mesmo culminado numa estrutura palpável. No mesmo ano, no seguimento de uma tertúlia dinamizada pelo Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da ULisboa, estas mesmas relações acabaram por se tornar mais próximas - nomeadamente entre a Faculdade de Medicina, o Instituto Superior Técnico (IST), a Faculdade de Medicina Veterinária (FMV) e Faculdade de Medicina Dentária (FMD) - o que levou a que, em 2013, a nossa Faculdade participasse, pela primeira vez, no Cortejo da Latada do IST, a convite do mesmo . Este evento estendeu-se da Alameda de D. Afonso Henriques à Praça D. Pedro IV, constituindo um momento que despertou a consciência da Comunidade Académica da FML para horizontes mais alargados.
Em 2014,  o grupo de faculdades anteriormente mencionado iniciou, com alguma regularidade, a discussão de temas da “Praxis”, procurando descortinar os mitos/sentidos atribuídos a alguns conceitos. Nesse mesmo ano, o Cortejo da Latada passou a contar com a participação das restantes faculdades do grupo.
Assim, este conjunto de estudantes das quatro instituições organizou-se no sentido de estabelecer princípios e práticas comuns entre si, quer de modo a enriquecer as suas realidades, quer de modo a adotar e instituir práticas mais corretas no seio das suas comunidades.
Desde então, nos últimos anos, vários foram os passos dados nesta direcção, nomeadamente através de encontros periódicos entre as faculdades envolvidas, bem como através de encontros com outras faculdades e projeção de eventos comuns. Em maio de 2015 realizou-se a primeira Serenata Monumental e o primeiro Cortejo da Queima organizados pelas quatro Faculdades em conjunto. A Serenata Monumental teve lugar na Reitoria da Universidade de Lisboa e o Cortejo estendeu-se desde a Alameda da Universidade até à Alameda D. Afonso Henriques. Nos anos seguintes, a semana da Queima continuou a ser produzida, na sua faceta transversal, em conjunto, já com uma organização estruturada, criada em 2015 - a Comissão Organizadora da Queima.
A Faculdade que mais recentemente se juntou ao grupo foi a Faculdade de Psicologia e Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, no ano letivo 2016/2017. Assim, e de olhos postos no futuro, evidencia-se a crescente procura destas faculdades por uma Lisboa cada vez mais dos estudantes, mais unida e em sintonia, na qual as práticas estudantis possam ter a sua devida expressão.

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