Queima das Fitas

Qual a origem da Queima das Fitas?


A origem da Queima das Fitas confunde-se com a do Centenário da Sebenta, dois eventos festivos levados a cabo pelos estudantes, originalmente em Coimbra, mas muito distintos na sua organização e simbolismo.

O Centenário da Sebenta remonta a 1899, mas já nesta altura existem registos e referências à Queima das Fitas, o que nos leva a concluir que o Centenário não serviu de mote ou inspiração para a Queima. Este Centenário era então uma festa organizada por um grupo de estudantes das faculdades de Direito e Teologia da Universidade de Coimbra, com o objetivo de parodiar os centenários cívicos que vinham a ser realizados em Lisboa e no Porto desde 1880. Como objeto para veicular esta sátira foi escolhida a sebenta, instrumento de ensino considerado dogmático e aberrante naquela altura. Esta cerimónia contava com um Sarau de Gala, um Cortejo de carros alegóricos e também com Baile, entre outras atividades.

Com um objetivo e conteúdo bastante distinto, temos a Queima das Fitas, conjunto de festividades que surgiu a marcar o encerramento do ano escolar. Ao contrário do que seria de esperar, tais festas não eram organizadas pelos finalistas, mas sim pelos quartanistas, aqueles que só no ano seguinte deixariam a faculdade. Uma vez que o último exame “a sério” era o do final do 4º ano, que dava acesso ao grau de bacharel, os estudantes comemoravam essa conquista como se fosse o fim do curso, pois o último ano eram “favas contadas” e, com o grau de bacharel, podiam já encontrar emprego. Assim, no dia de ponto (último dia de aulas, que não era o mesmo para cada faculdade) os estudantes queimavam a fita que usavam para atar a pasta onde guardavam as sebentas, o grelo. Queimado o grelo, havia que dar destino às cinzas, sendo o costume mais antigo trazê-las em procissão até à Porta Férrea e enterrá-las numa cova, para que todo o curso lhes urinasse em cima. Uma vez desfeitos destas fitas, outras eram oferecidas (pela família ou pelos padrinhos) aos quartanistas: fitas largas, também da cor de cada faculdade, que eram usadas nas chamadas pastas de luxo: pastas pretas, que não serviam para transportar sebentas, mas sim como forma de ostentação do grau de bacharel obtido.

Em Lisboa, a primeira Queima das Fitas ocorreu no ano de 1923, tendo o seu conceito tradicional sido deturpado com o passar do anos e com o aparecimento da Semana Académica (conjunto de eventos festivos, realizados também no mês de maio, mas cuja base não passa pela Tradição Académica).

Atualmente, a Faculdade de Medicina de Lisboa, em conjunto com a Faculdade de Medicina Dentária, a Faculdade de Medicina Veterinária, a Faculdade de Psicologia e Instituto de Educação e com o Instituto Superior Técnico trabalham com o intuito de dar aos estudantes de Lisboa uma Queima com a praxis e o respeito pela Tradição Académica que lhe é devida. Em maio de 2015 ocorreu pela primeira vez a Serenata Monumental com a FML, FMD, FMV e IST em frente à Reitoria da Universidade de Lisboa e também um Cortejo da Queima organizado em conjunto por estas quatro faculdades, com percurso entre a Alameda da Universidade e a Alameda D. Afonso Henriques. Em 2016, houve pela primeira vez a presença de Carros Alegóricos nos tempos modernos em Lisboa, também no Cortejo organizado por estas faculdades, e em 2017, a Faculdade de Psicologia e Instituto de Educação da Universidade de Lisboa também já se havia juntado a este projeto. Assim, percebemos que existe em Lisboa a vontade de que a Tradição Académica se mantenha e que sejam preservadas práticas que tenderam a alterar-se com o tempo na cidade.

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